Amor em concha
No dia em que o amor me foi explicado em concha apaixonei-me. Pegaste-me ao colo e rodopiamos como um, numa passadeira de madeira suspensa, suspensa do mundo que acreditei ser diferente, suspensa da realidade dos outros, porque a nossa era diferente, era de sempre, era eterna, era de uma vida. Porque foi tão bom acreditar...acreditar numa alma gémea que havia resistido ao destino, um amor que era mais forte que o mundo, um mundo só nosso, um ninho único, uma alma para dois. E éramos servidos à grande, um prato cheio de cumplicidade, de sincronia, de passado comum, de carinho, de respeito, de horas e horas de palavras soltas que não deixava o vento levar e que prendia em meus recantos para que pudesse em mim crescer o que nem sabia ter em semente. Nunca me senti tão abraçada, foi um abraço em flor, um abraço que fez desabrochar tudo o que esteve fechado à chave entre as folhas de um diário durante anos. Senti-me dele, senti-o meu, senti o passado, senti-nos no presente e desejei-nos um futuro. E tudo me pareceu tão claro, tudo me pareceu ter tanta lógica e achei que havia sido uma burra por não me ter permitido acreditar em ti antes, achei-me horrível e não merecedora do amor que me tinhas e decidi, ali ao teu colo, que não iria embora, que nunca mais iria embora. Decidi que ia morar em ti, que ia fazer uso capião do teu coração, apoderar-me do que não vivi, agarrá-lo com toda a força e desta vez não largava. E como adoro que me agarres, que me segures firme, que me olhes fundo, que me toques na hesitação que o desejo exige, que me ultrapasses, sem botões, não quero botões! Quero entrega, quero desejo, quero partilha, quero confiança, quero-te na essência do que és, perdido no desejo do que sentes, quero-te em alma num corpo que não é teu, quero que does o que tens num tempo que não é eterno. Tenho medo de mim amor porque ainda assim acredito. Continuo burra no que acredito? Desfasada no tempo do que é eterno? Não me percebo, não te percebo e mato-me de tristeza no amor que temos e não vive, porque não me vou embora.
2 Comments:
"No dia em que o amor me foi explicado em concha apaixonei-me."
Soa tão bem esta frase!
E pela descrição do momento, como podias não te apaixonar...?´
Às vezes é pena não podermos para o tempo, não é?!
Errata: onde se lê "podermos para o tempo", deve ler-se "podermos parar o tempo". :)
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