Wednesday, February 22, 2006

Da verdade não sei nada


Se a verdade das coisas me abarcasse eu perdia o rumo de vez e deixava de acreditar, pelo que acordo todas as manhãs no torpor dos dias, desejando que ela, a verdade, nunca me descubra. Só consigo, a cada dia que passa, concluir que a verdade é finita, que acorda todas as manhãs diferente e que joga às escondias com quem se deita com ela. É uma amante, uma amante infiel, que se deita com quem lhe paga mais. Se acredito no que me diz, mata-me durante o sono, enrola-me no lençol que faz parecer branco e simples e não volto a acordar.

No despertar dos dias tenho a ideia firme de que é completa, de que não há outra, é um amor na evidência declarada do que tenho que viver ou deixar de viver, do que tenho que construir ou destruir, do que tenho ou não que ser, mas completamente desconectada da realidade. É vulgar, está na boca do povo, toda a gente a conhece, é vizinha de alguns, mas certeza absoluta de todos. E na verdade de quem sabe o que diz perde-se e conta a história no exagero de quem me quer, mas como quem conta um conto acrescenta um ponto, conta as mentiras nas não palavras que não esconde mas eu não leio porque não sou cega. Gaita! Fosse eu cega de ideias, valores e crenças e lia tudo o que a verdade não deixa de me repetir.

No atropelo das noites sobre os dias ou dos dias sobre as noites perdemos noção do que a verdade nos diz e desconfiamos de tudo e de todos, atrasados pelo que já fomos, mas tem que ficar para trás, porque morreu atropelado pelo correr da vida que persiste mas não consiste, temos que desvendar o amanhã, ainda que resistentes, presos à roda do carro e suportando o peso da carroçaria, é para continuar para a frente que atrás vem gente. E a vida assim como a verdade, não são justas, promíscuas com a morte e a mentira moram no bordel dos dias e de tal forma são sedutoras que nos fazem esquecer porque andamos aqui. Porque andamos aqui mesmo?

2 Comments:

Blogger mac said...

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22 February, 2006 19:36  
Blogger mac said...

tem momentos brilhantes. sentires que vagueiam entre cá e lá, no fio do arame que separa quem escreveu, quem escreveria e quem escreve hoje. muito bem.

23 February, 2006 14:06  

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