Sunday, February 19, 2006

Preciso morrer, estou para lá da tua mão pelo que preciso morrer...


Ninguém disse que os dias eram nossos, ninguém prometeu nada, fui eu que julguei que podia arrancar sempre mais uma madrugada.

Ninguém disse que o riso nos pertence, ninguém prometeu nada, fui eu que julguei que podia arrancar sempre mais uma gargalhada.

E deixar-me devorar pelos sentidos e rasgar-me do mais fundo que há em mim, emaranhar-me no mundo e morrer por ser preciso, nunca por chegar ao fim.

Mafalda Veiga


Preciso morrer. Preciso morrer de novo. Quem me mata? Quem me ajuda a morrer? Este amor está em estado terminal, não tem cura, trás muito sofrimento, impede-me de viver o resto dos meus dias com dignidade e auto-estima. Preciso que me matem. Ninguém pratica eutanásia do amor neste país?!? Terei que ir morrer no estrangeiro? Será longe que vou encontrar descanso?

Vou longe e volto para recuperar a vontade de ser feliz, para voltar a acreditar na calma do tempo, no desejo das vontades, na descoberta dos sentidos. Volto com calma, sem pressa de viver, controlando as vontades, reprimindo os desejos, ceifando o destino. E talvez assim seja feliz. Rebento-me em atitudes intempestivas e desregradas. As regras aborrecem-me. Mas depois de morrer vou voltar a respeitar regras, melhor vou criar regras de contenção e contenho tudo o que me desassossegar, tudo o que despertar em mim vontade de viver, assim talvez não precise de morrer outra vez. E passo a ser um poço de ponderação, daqueles sem fundo para os quais se pode deitar tudo sem nunca ouvir chegar ao fim nada. E quando algo ou alguém despertar em mim a vontade de um sorriso escangalhado vou sempre lembrar-me que choro desalmadamente de seguida e vou passar a esboçar um sorriso contido, educado, daqueles que ficam bem até num jantar da alta sociedade, daqueles sóbrios, só simpáticos, os hilariantes que morram comigo.

Há alguém que me ajude a morrer? É por uma causa nobre, preciso morrer para ser feliz, não quero chegar ao fim nunca...

Blondy

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