Wednesday, February 22, 2006

Black Cat in Blue Windows


Sobre os meus olhos azuis de um castanho lindo e brilhante mora um gato preto de olho verde-azul. Chegou de mansinho, ronronando baixinho e eu deixei-o entrar. O verde dos olhos é cor meiga e o azul é suave e fresco. Espreita de esguelha como quem quer mas não quer, hesitando nos minutos que correm os dias que atravessa. Manhoso e arisco tem com ele o fascínio da descoberta, do que está para além do que não conheço. Deliciosa, a promessa de encontrar perdido nos olhos de quem não encontro o calor da entrega. E matreiro e ágil, torneia as minhas pernas na procura de um colo fugaz, de um colo para onde possa fugir e descansar, descansar depressa porque a vida é curta e há muito a fazer. Cuida de mim, cuida de mim, descaradamente, zela pelos meus passos e quando perto acompanha-me à entrada, abre-me a porta e certifica-se que a fecho atrás dele. Adoro quem me cuida na sombra, resisto, mas derrete-me a persistência de quem me quer bem. Solitário e independente caminha os dias, porque é um gato maduro e as noites já o cansam, com firmeza, empoleirado no muro alto para onde trepou, a muito custo, e de onde não vai sair, porque a vida que leva, dentro de um saco ao lombo, é pesada mas não o vence.

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