Thursday, June 22, 2006

Encontros imediatos...


…primeiro pensei em mim como formiga, trabalhadora, empreendedora – prevenindo o futuro, ágil e forte, cheia de convicções, teimosa e muito determinada. Depois achei-me cigarra, com certeza inspirada pela história, ou estória – detesto estas minhoquices, incerta, relaxada, desbocada, boa vivam e divertida. Mas não! Nem formiga, nem cigarra. Sou térmite, definitivamente térmite. Chego escondida e por ali fico. Estudo a madeira, percebo tudo o que seja de fácil digestão e avanço. Rapidamente chego à superfície, debruando com o corpo a rosa das nove vidas que ninguém me dá. Pelos minúsculos buracos arredondados na madeira, perceptíveis apenas para quem está muito atento, respiro as gentes que me rodeiam e não transpiro. A irmã que borda a meu lado, distraída, é morta no exterior do labirinto e tomada como assunto resolvido, praga exterminada. Eu continuo lá, regurgitando e digerindo, regurgitando e digerindo, não descanso, o desgaste é contínuo, não me consigo saciar, não paro e mino, mino tudo. Mino tudo o que me passa pelas mãos, devoro a estaca mais sólida, transformo o mais belo e robusto carvalho em pó e destruo. De dentro para fora, ninguém vê, sou nada e nada torno para parecer muito. Sou pequena, pareço inofensiva, quem se dá ao trabalho de reparar não dá nada por mim, mas quando nos damos conta, construí barraca bem assente, devorei o tutano da coisa, abalei a estima do auto, derrubei as estruturas e destruí tudo o que julgou abrigar-me. Nada saciada morro na praia, falta-me o chão…

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