Ressurreição
Quando fecho os olhos não vejo futuro. Nunca vi. Quando fecho os olhos vejo o entornar de estrelas por um funil, num abismo, para um abismo, longe. Abismo que as parece sugar, aspira-as, as estrelas, para dentro do que não vejo, do que não parece ter fim, da imensidão do que te trás sempre à toa. Respiras baixinho de dentro do que desassossega a alma e apertas vigoroso o que me emprestas, o local sempre desconhecido do que nunca despertámos. Embalada pelo escorrer, vou junto às estrelas, que aliás acompanho desde sempre. Não me sirvo das estrelas para pular, como num rio atravessado por pedras, que servem de tapete ao nosso rumo seco, deito-me de costas e deixo-me levar pela maré em remoinho que arrasta a minha memória. E quando perco esta imagem, quando entra réstia de luz e perco o sonho do deleite aguçado, que me deixa água na boca, fecho os olhos com força e rezo para que volte. Rezo aos olhos que me denunciam a alma que me tragam as estrelas de volta. São caprichosos...são caprichosos os olhos e o abismo do qual não me afasto só volta quando quer.
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