Wednesday, March 15, 2006

Só sentido, sem qualquer nexo


Irrita-me a inactividade de quem não tem o que sentir. Irrita-me a inércia. Caramba, mas quanto tempo pensam que temos! Irrita-me a subtracção das decisões sobre os dividendos da morte anunciada. Não há remédio, ela chegou e não há quem nos valha. Está para ficar e temos que conviver com ela todos os dias, a cada refeição, a cada sorriso, a cada desespero e se não a podes vencer junta-te a ela. Vem. Chegaste? Já não vais partir? Então chega-te porque vou fazer-te a vida negra. És para sempre, agora somos nós, depois vão ser só vocês, sem hipótese de dividir momentos, de matar … que ironia, matar saudades, então espera porque não vais ter tréguas. És tu que vais ganhar, não há guerra que possa vencer, mas venço-te todas as batalhas que conseguir. Vais sair ferida, pouco recordada e ignorada. E nada pior do que ser desprezada, do que não ser recordada, mais vale recordarmos o mau, do que nem sequer nos lembrarmos e vai ser assim. Não me lembro da morte ter passado pela tua vida. Não me lembro mesmo. Lembro-me do sorriso, das faces rosadas, do cheiro a comida lá em casa, lembro-me da tua luta, lembro-me de como era lindo o lenço que te dei, mas não me lembro de teres morrido. Raios parta quem não a vê à distância, quem se esconde por trás do muro de execução e não nos deixa trepá-lo e ver mais longe. Raios parta quem tem tanto medo de ver sofrer que ignora a vontade, o respeito, o desejo, a luta. Raios parta quem não se dá ao trabalho de estar para ver sofrer. Quem somos nos? Para que estamos por aqui? Que venha quem nos quiser levar, porque eu, garanto, vou sempre dar muita luta. E não há quem ou o que me demova. Ser grande é só ser gente e ser gente é só estar aqui para ver sofrer…

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