Africa
Sempre adorei Africa. Nem sei muito bem porque. Só conheço a Praia – Cabo Verde e nem me fascinou. Senti-me mal enquanto turista, de canga e bikini, a passear por ruas de pés descalços, de t-shirts rasgadas, de muito pó e de muita pobreza.
A beleza não é só a paissagem, são as gentes e eu acabei por conhecer gente muito gira. O mais grandioso é que no meio de tanta pobreza, são felizes, simplesmente felizes.
Já tinha levado alguma coisa para dar mas acabei por dar tudo o que tinha, roupa, pasta dos dentes, champô, amaciador... O amaciador foi prenda para uma portuguesa de alma africana que se deixou prender pelos mares de Cabo Verde. Olhou-me com uma imensa gratidão, pela oferta do amaciador, e ainda hoje recordo aquele olhar. Ali o amaciador não foi só um amaciador, foi um regresso a casa, foi, de certo, uma mordomia, foi uma oferenda grandiosa. Quem diria, um amaciador...
Quando penso em Africa penso sempre numa grande missão. Vejo-me sempre de cabelo atado, roupa à explorador e mãos sujas de tanto trabalhar. Imagino-me a distribuir medicação, a fazer partos, a ajudar. Imagino a gratidão espelhada naqueles rostos e o brilho daqueles olhos. Imagino-me de chinelo no pé. Imagino-me a andar muito, a percorrer léguas de terreno árido e a encontrar um oásis a cada esquina do nada. Encontrar um oásis de compaixão, de alegria, de gratidão, de entrega, em cada rosto negro, em cada família, em cada tribo.
Adoro a paisagem da Savana Africana. E, por não a conhecer pessoalmente, gosto de quem ma mostra. Por isso me apaixonei por estes quadros, que à posteriori descobri serem de Leonel dos Santos. O intuito deste post era apresentar-vos este ilustre desconhecido que, na minha humilde opinião, retrata a savana com a simplicidade que ela pede. Só assim. Traços simples. Cores de sol, quentes, escaldantes, longínquas, só acessíveis à percepção de quem vive Africa (seja lá que o isso for, viver Africa). Se fossem gente, os quadros, seriam de poucas palavras, mas acertivos. Seriam chocolate, quente e doce. Se fossem gente seriam carácter, luta, determinação, resistência. Se fossem gente seriam paixão.
Leonel dos Santos nasceu em Moçambique, na Cidade da Beira, em Abril de 1964 (Touro. Claro!). Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde tirou dois cursos: Curso de Artes do Fogo (Giro. Lá esta a capacidade de expressão em tons sol); e o Curso de Imagem.
Participou em cerca de quatro exposições colectivas em Portugal e na Alemanha. Fez duas exposições em nome individual em Portugal e uma única na Alemanha. A grande maioria das exposições realizados em Portugal ocorreram no Alentejo e em Lisboa. O pintor adoptou o Alentejo como segunda pátria e já o pinta com alma.
Encontrei-o perdido numa loja de pintura no Colombo e apaixonei-me pela simplicidade do traço. Os quadros já moram no branco da minha parede.
1 Comments:
Ou muito me engano, a minha falecida avó tinha um quadro igual a este na sala de jantar, que o meu tio trouxe de Angola depois da guerra.
Deve ser parecido, apenas isso, mas lembro-me de ficar horas a fitar-lhe os pormenores, a galar-lhe o incêndio. Alma de fogo, esta de África. Partilho a tua paixão, pelas ilhas e pelo continente.
A minha casa é o Mindelo e a minha fonte é Moçambique. Tens que lá ir um dia, pregar esse quadro numa parede invisível para veres que não é pintura. Enquadramento, apenas.
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