Candeeiro de azeite II
Porque a mensagem é mesmo importante. Porque pensei sobre o assunto e há mais uma ou outra coisa a respeito que gostava de partilhar. Porque o acho incompleto...
Este octogenário foi-me apresentado numa cama, com uma fácies inexpressiva, os músculos estavam comidos pelo descanso antecipado e prolongado no leito, estava muito emagrecido e não se lhe conseguia arrancar palavra. A idade também tem destas coisas. Ficamos mais vezes doente e qualquer doença é logo de caixão à cova, literalmente. Mais sensíveis e menos resistentes. Mas aprendi com este octogenário outra lição que não o candeeiro de azeite, não desistir nunca de alguém octogenário que se nos é apresentado assim. Arrancá-lo à doença, é arrancá-la daquela cama que o comia vivo, é dar-lhe vida, é ressuscitar a sapiência insípida, é dar-lhe voz. E foi isso que aconteceu com este octogenário que pouco tempo depois me trazia mais lições de vida. O segundo encontro foi bem mais agradável, caminhava pelo seu pé, tinha o aspecto de um qualquer senhor britânico do antigamente, com o seu blaser malhado e o seu lenço ao pescoço. Estava perfumado e cheirava muito bem, adoro homens que cheiram bem, adoro a mistura da pele com um bom perfume. E nem foi preciso arrancar-lhe discurso algum. Este surgiu espontaneamente e mostrava a sapiência de uma vida de vida.
Porque fiz o paralelismo com um comentário que me fizeram há uns tempos e que eu não consegui atingir por completo na altura (isto o tom de cabelo tem muito que se lhe diga, enleia o tico e o teco e depois a cena fica mais lenta, mas devagar, devagarinho eu chego lá). O pavio é importante mas o azeite...o azeite tem que ser da melhor qualidade, tem que fazer render o pavio, tem que ser saboroso, tem que ser reposto inúmeras vezes, sempre que for preciso e tem que ser preciso muitas vezes, tem que ser reluzente, tem que, na medida do bom senso, fazer esquecer o tamanho do pavio. Lá está, a vida bela, grande mesmo que miniaturizada. E a vida miniaturizada pode ser só uma vida curta, mas plena, muito grande e bela (Será que atingi? Ainda que não seja a ideia inicial, não me parece um mau paralelismo. O que te parece?).
Não podemos, de todo, usar azeite de menor qualidade. Não podemos desperdiçar o pavio que nos foi destinado com azeite em segunda mão. Não podemos deixar o pavio com sede. Não podemos desperdiçar tempo de combustão deixando para amanhã o azeite que podíamos repor hoje. Não podemos deixar apagar o pavio por falta de azeite quando ele ainda tem tanto para ser queimado, quando ainda há tanto para ser vivido. Não podemos morrer antes do tempo e achar que estamos vivos porque andamos por aqui. Não podemos, definitivamente, deixar para repor amanhã o azeite de podíamos ter reposto hoje.
Este octogenário foi-me apresentado numa cama, com uma fácies inexpressiva, os músculos estavam comidos pelo descanso antecipado e prolongado no leito, estava muito emagrecido e não se lhe conseguia arrancar palavra. A idade também tem destas coisas. Ficamos mais vezes doente e qualquer doença é logo de caixão à cova, literalmente. Mais sensíveis e menos resistentes. Mas aprendi com este octogenário outra lição que não o candeeiro de azeite, não desistir nunca de alguém octogenário que se nos é apresentado assim. Arrancá-lo à doença, é arrancá-la daquela cama que o comia vivo, é dar-lhe vida, é ressuscitar a sapiência insípida, é dar-lhe voz. E foi isso que aconteceu com este octogenário que pouco tempo depois me trazia mais lições de vida. O segundo encontro foi bem mais agradável, caminhava pelo seu pé, tinha o aspecto de um qualquer senhor britânico do antigamente, com o seu blaser malhado e o seu lenço ao pescoço. Estava perfumado e cheirava muito bem, adoro homens que cheiram bem, adoro a mistura da pele com um bom perfume. E nem foi preciso arrancar-lhe discurso algum. Este surgiu espontaneamente e mostrava a sapiência de uma vida de vida.
Porque fiz o paralelismo com um comentário que me fizeram há uns tempos e que eu não consegui atingir por completo na altura (isto o tom de cabelo tem muito que se lhe diga, enleia o tico e o teco e depois a cena fica mais lenta, mas devagar, devagarinho eu chego lá). O pavio é importante mas o azeite...o azeite tem que ser da melhor qualidade, tem que fazer render o pavio, tem que ser saboroso, tem que ser reposto inúmeras vezes, sempre que for preciso e tem que ser preciso muitas vezes, tem que ser reluzente, tem que, na medida do bom senso, fazer esquecer o tamanho do pavio. Lá está, a vida bela, grande mesmo que miniaturizada. E a vida miniaturizada pode ser só uma vida curta, mas plena, muito grande e bela (Será que atingi? Ainda que não seja a ideia inicial, não me parece um mau paralelismo. O que te parece?).
Não podemos, de todo, usar azeite de menor qualidade. Não podemos desperdiçar o pavio que nos foi destinado com azeite em segunda mão. Não podemos deixar o pavio com sede. Não podemos desperdiçar tempo de combustão deixando para amanhã o azeite que podíamos repor hoje. Não podemos deixar apagar o pavio por falta de azeite quando ele ainda tem tanto para ser queimado, quando ainda há tanto para ser vivido. Não podemos morrer antes do tempo e achar que estamos vivos porque andamos por aqui. Não podemos, definitivamente, deixar para repor amanhã o azeite de podíamos ter reposto hoje.
2 Comments:
Foi sem dúvida um bom paralelismo. A beleza das palavras é precisamente o poder serem lidas de modo diverso ao que foi escrito. Gostei muito destes dois posts. É inevitável que ao longo do tempo haja períodos em que o azeite esteja mais sujo e o candeeiro perca alguma da sua luz. No entanto não podemos perder a esperança de que ele seja substituído; teremos sempre que ser nós próprios a fazê-lo. Apesar de poder existir alguém que nos ajude, terá sempre que partir de nós. E não podemos nunca deixar acabar o azeite, para que não se apague o pavio por falta de alimento. A morte só deve acontecer com o último suspiro e não antes.
Continua sempre iluminada, Blondy!
Posso pedir-te um favor?
Lê as tuas próprias palavras!
Mas lê-as com atenção!
E interioriza-as...
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