Friday, December 09, 2005

O dia terminou...


...o dia terminou e a lua é o olho semi-cerrado de um gato sedutor que me espreita e do qual não consigo fugir. É inquisidor e pergunta-me pela vida. Confesso-lhe que desde que me conto a alguém, desde que mostro a minha alma ao mundo e em particular ao meu amor 13, que descobri que não sou o que pensava. Passar para palavras o que sentimos, o que achamos ser capazes de fazer, as vontades súbitas, os desejos arrebatadores, os ódios puros, os amores não correspondidos... passar para palavras o humor instantâneo, aquele que se prepara em segundos e está pronto para ser consumido, aquele que tem vários sabores, amor, ódio, raiva, tristeza, medo, vingança, desejo, aquele que tão depressa cozinhamos e que tão depressa desaparece, devorado pelo apetite voraz da consciência, faz-me perceber que não sou boa, não sou má, sou péssima pessoa. Faz-me perceber que há uma qualquer peneira que me impede de pôr em pratica aquilo que penso ou sinto, que há um qualquer temporizador que me faz lembrar dos outros e perder o apetite, que tenho um qualquer exaustor que afasta os pensamentos maus e que os poros do meu papel vegetal estão dimensionados à medida da metade que se aproveita do meu carácter, sendo impermeáveis a tudo o resto. Porque na prática eu não faço mal a ninguém apesar de no fundo consigo desejar, na mesma medida, o bem e o mal. Porque não me orgulho nada disso. Porque talvez todos sejamos um bocadinho assim e eu não seja mais do que ninguém. Porque procuro fazer melhor, apesar de ainda não conseguir. Porque a vida não é fácil e eu ganho a percepção disso a cada dia, talvez, talvez tenha perdão. O que te parece gato?

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

todos os q são, beneficiam disso.
de serem verdadeiros e directos e, também por isso, desculpa-se-lhes quase tudo.
se há coisa de que não se consegue deixar de gostar é de uma gata em telhado de zinco quente.

09 December, 2005 18:08  

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