Eureka!
Ontem ou anteontem, já não sei, o tempo de trabalho roubou-me a orientação, um amigo dava-me uma nova opinião sobre o meu blog. Já tive posições mais ou menos entusiastas, mas esta é nova, o meu blog é narcisista. Parece que há dois ou três posts que denunciam a minha vaidade em mim e que o cúmulo do narcisismo está na fotografia de mim no meu blog.
Trato-o, o meu blog, por livingmirror, é um nome como outro qualquer eu lembrei-me deste. Já tinha outros significados, já tinha história e foi este que escolhi. Perante este nome próprio e porque a minha vida é um mar de coincidências (no fim de semana em que decidi que era este mês que nascia o meu menino, ouvi um amor próximo contar-me como gostavam de fotografar reflexos em espelhos e pensei eureka!) achei que a foto do reflexo de alguém vivo num espelho com passado, presente e potencial futuro era, sem sombra de dúvidas, a estrela no topo da árvore de natal, o caramelo do meu pudim... Escolhi-me a mim, como ser vivo. Talvez tenha sido este o erro. Não é bem verdade que ande viva, experimento um período de adormecimento afectivo, qual branca de neve, e por isso não ando viva, até ando meia morta. Foi este o meu único erro, a presunção de achar que estou viva. Ainda não, mas a vontade de voltar a estar é muita.
A fotografia foi pensada, ou seja, tirada à distância, sem muitas preocupações sobre a nitidez, num ambiente de média luz e contra um espelho que descobrimos num cafezinho delicioso em Évora. Aliás, ali tudo era delicioso. Eram deliciosas as paredes, com azulejos empilhados em história, os candelabros altos de ferro sobre a mesa, as janelas cortadas ao pormenor, com cortinas que nos traziam a imagem do antigo (o antigo tem uma imagem?), os cheiros, uma mistura de amêndoa, limão e canela (adoro canela!), os sabores doces, as gentes alentejanas, com o seu sotaque arrastado e ternurento, a temperatura de um forno de lenha que nos aquecia até a alma…E o objectivo foi conseguido. Das múltiplas fotos que tiramos, sim, porque também havia ficado combinado que teria que ficar séria, tratava-se de um assunto também ele sério, a minha alma (já está perdida, mas eu não conto a ninguém e ela passa por salvável), mas eu acabei por me rir múltiplas vezes, escolhi esta. Está desfocada e distante, de forma a não me sentir demasiadamente exposta. Na prática ficou a ideia, alguém vivo reflectido num espelho, porque pouco se percebe para além de que se trata de uma gaja aloirada e com barbela. Mas estou séria, passo até alguma serenidade. Que engano! Como se eu andasse serena. Bom, mas foi assim que saiu e foi assim que ficou. Desde já os meus maiores agradecimentos à fotografa, que aliás cedeu outras fotografias a este blog, a minha patines.
Quanto aos posts...sinto-me tão pouco viva que me preocupa saber se gosto de mim. Mas se consigo enganar o mundo e parecer ter vaidade em mim, vou no bom caminho. E eu quero. Seguir o bom caminho. O bom caminho é só ser feliz. Só? Como se fosse pouco conseguir ser feliz.
Gosto demasiado da vida para deixar instalar a morte.
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