Monday, November 21, 2005

Detesto incompetência!

Não! Eu odeio incompetência! Raios partam! Raios partam aqueles que andam neste mundo só porque sim. Que se arrastam nas suas funções com a displicência de quem não tem qualquer responsabilidade sobre aquilo que faz, que não faz, ou que deixa de fazer.

Raios partam os moles. Aqueles para os quais nada tem pressa. Aqueles que não tem culpa de nada, nunca! Aqueles que não podem dar a cara pela casa, porque ou não são os donos, ou não estavam lá na altura, ou etc., etc., etc... Ainda que pertençam ao staff, ainda que tenha sido um erro já cometido outras vezes, ainda que, inacreditavelmente, seja erro do próprio.

Raios partam aqueles que errando não pedem desculpa. Raios parta quem não tenta, sequer, remediar o erro.

Usam e abusam do tempo do utente como se existissem mil amanhãs.

Dois em um. Cada tiro cada melro, cada cavadela cada minhoca...

Sai a correr, porque o tempo é demasiado precioso para ser desperdiçado, e fui desempenhar tarefas necessárias. Tenho que ser eficaz e rápida, pensei.

Primeiro levantar a roupa que pus a lavar na loja do canito enrugado. Oito camisolonas de lã, daquelas que levariam séculos a enxugar e que ficariam atulhadas em borbotões se fossem lavadas em casa na minha Phillips. Ora, aqui vem uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, sete, sete, sete...cadé a oito? Hummm...estão a procurar...pois são oito, a última é das minhas preferidas. Mal me cabe na cabeça, é estreita ou sou eu que sou larga de cabeça. Mas a cor é crua, linda. Nem carne, nem peixe, nem salgado nem doce, nem água nem vinho, cru. Tem uma lista azulona, horizontal, e horizontal é sempre bom, a meio e tem as extremidades das mangas dobradas. Adoro quando as mangas não acabam no vazio de uma costura e se continuam por ali acima. Tornam-se mais acolhedoras.

Quarenta e cinco minutos depois continuava à espera da azulona, a número oito...

Nop. Por algum motivo, que eu não estava a ver bem, aquela comisolona linda, minha, com história e que deveria estar lavada, seca e passada há mais de quatro dias tinha desaparecido. Está bem que eles secam a roupa, o canito, coitadinho é demonstrativo, mas secam a ponto de ela encolher o suficiente para desaparecer? Bom, qual que, ok, terei que cá passar outro dia.

Foi a discurso seguinte que me deixou possessa. “Passe por cá amanhã que eu falo com as minhas colegas para ver se elas a acham.” Desculpa??? Claro. Passo amanha e depois e depois e depois, até que um dia a acham, ou não, e eu a levo para casa. Não tenho mais nada que fazer senão passar por cá todos os dias.

Que tal: “ Pedimos desculpa pelo incomodo. Podemos ficar com o seu tm para a contactarmos assim que encontrarmos a sua camisola? As nossas desculpas. E uma boa tarde.”

Não!! “Passe por cá amanhã que a gente vai ser se encontra.” Desculpa!! Já estou a ver: “Dr., como está o meu pai?; Médico: Passe por cá amanhã que digo-lhe se vive ou morre.”

Alguns metros à frente e poucos segundos depois, já tinha recalcado o assunto e encaminhava-me para uma fotocopiadora, qual verdadeiro pai natal, com a carta que o meu sobrinho me tinha ditado, escrita por mim e dirigida ao pai, ao Pai Natal. Aliás a carta é uma delicia, faz-nos esquecer qualquer adversidade, reparem:


“Uma prenda do spiderman, se faz favor, e um arco para atirar para o círculo. Também quero os amigos do spiderman, o veneno e o Ironman.

Preciso de mais babelades, se faz favor. Um digimon, para eu brincar, se faz favor.

Outra bola, se faz favor. Muitas coisas, muitas, muitas.

E um foguetão.

Fiz desenhos, gostava de ter uns brinquedos do Pokemon.

Também comi. Eu estudei, também brinquei. Também quero um avião.

Também confiei e fiz panquecas.


Obrigado, ate já. ”


Eu sei, o português deixa um bocadinho a desejar, os tempos verbais já se conjugaram melhor e as frases já foram mais completas e explicitas. Mas é lindo! A mim pelo menos parece-me. È a primeira carta que ele me dita, a primeira que eu escrevo e a primeira a ser enviada.

Bom, lá ia eu, a capuchinho vermelho do Pai Natal às fotocópias. “São dez cópias desta carta para o Pai Natal, se faz favor. Obrigado.”

Senhora em direcção à fotocopiadora. Senhora de volta ao balcão.

Pensei: “Não. Isto são borras. Nem o próprio Pai Natal, na sua magnitude e extrema bondade e compreensão, vai conseguir perceber esta carta. Não se vê nada.” Mas o que saiu foi: “Desculpe, mas estas copias estão demasiado escuras.”

Resposta: “É o standart. A Sr.ª não pediu mais claras. É o standard.”

Juro que não acreditei. Desculpa!! Onde está a câmara? Qual é a esquina em que a "magana" espreita? Tem que ser um qualquer programa de Tv. A seguir vão-me esfregar a camisa com laranja, vou ser cumprimentada por um aliene na bomba de gasolina ou transformo-me em sapo. Só pode ser, só podem estar a gozar comigo.

Tentei explicar, com uma calma incaracterística, inspirada na mensagem da carta que me havia sido fielmente depositada, que eu não tinha experiência com a fotocopiadora da casa, pelo que eram eles que tinham que experimentar e optimizar a imagem. Satisfazer o cliente. Conhecem? Trabalho em qualidade. Nessa altura intervêm o patrão que estava ali ao lado e diz-me: “É o standard. Nenhuma maquina de laser lhe vai fazer melhor.” Não!! Estão a gozar comigo e eu a ver.

“Desculpe, mas a sua maquina laser Xpto, não tem um botanito, não precisa ser grande ou multifunções, pode ser pequenino e passar quase despercebido, mas não terá, a maquina, um botanito que dê para diminuir o contraste?” Sim porque ele tinha e estava, com certeza, off.

Resposta do PATRAO: “Tem. Quer que repita?” Dúvidas??? Mas o que é isto?? Como ia o Pai Natal perceber uma carta que são só borrões. Mas qual é a dúvida??

Respondi:”Quero sim. Obrigado.”

Empregada: “São 3E20.”

Apressei-me a entregar a nota, queria sair dali rápido. Espera...mas quanto custa cada copia nesta casa? Não me digas que estou a pagar a incompetência da empregada e a burrice do patrão? E não é que era verdade. Que raiva!! E a nota já lá estava. Só pude fazer um discurso pomposo e demonstrador do meu desagrado – “É a primeira e última vez que me tem como cliente. Não pelo 1E50, mas sim pelo roubo e pela incompetência.” Mas a verdade é que ainda me estou a roer pela prontidão no pagamento. O que me teria dado um enorme prazer seria ter dito: “Temos pena! Fiquem com as 20 cópias. Como diz a canção: “Jingle bel, jingle bel, já não há papel. Não faz mal, não faz mal, limpam...”

Gente, eu sei que nem todos podemos ser e fazer o que queremos. Nem todos somos bafejados por essa sorte. Mas se levarmos a sério as nossas funções, se uma camisola não for só mais uma camisola, se uma copia não for só mais uma cópia, se aquele for o nosso trabalho, resultado do nosso empenho, se fizer parte do que construímos, corre melhor para todos.

Caramba!! Era a carta para o Pai Natal.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Que posso dizer?
Uma maravilhosa descrição de um dia fantástico!
De facto há dias levados da breca!
Mas pensa positivo: aquilo que para ti foi um dia para esquecer, a mim fez-me rir!
Já não se perdeu tudo!

10 December, 2005 03:56  

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