Febre de contacto
Tenho tantas saudades que o teu corpo toque o meu.
Recordo a textura da pele. Recordo o calor dos corpos. Recordo a suavidade do encontro, o cheiro da entrega, o gosto da vontade.
Saudades. Saudades do tempo em que estes pensares ocupavam as 24 horas do meu dia. Saudades do sorriso, que se espelhava quando recordava, do súbito desejo que sentia, da pele arrepiada, do aumento da temperatura corporal, do sentir da vida. Do sentir uma imensa vontade de vida. De te ter, de te rever, de te falar, de te amar…
A saudade é uma doença portuguesa. Só nós sentimos a nossa saudade. Ainda não é uma epidemia, não é considerada uma ameaça mundial. Ainda não há casos de disseminação. Ainda não há registos declarados de contágio, de qualquer tipo, e ainda não se sabe a via de transmissão. Será oral, fecal ou sexual?
No dia em que descobrirem a ameaça que constitui a saudade falada em português, eu sou a primeira a ser abatida, tenho uma infecção em alto grau, já estive a soro e tudo. Mas o soro acaba-se. Tem vida própria, apesar de não parecer, fez as suas opções e foi à sua vida. Eu não fiquei curada. Foi apenas um, muito curto, tratamento experimental e o cientista responsável terminou com tudo à primeira complicação. O estudo foi terminado subitamente. Ficou provado que aquele que parecia ser o soro da vida era muito instável e tinha uma relação risco/benefício desvantajosa. A experiência terminou e eu continuo moribunda…
A perspectiva do abate nem me parece tão má. Já consigo perceber o que sentem as galinhas infectadas que abnegam ao resto da sua vida em prol da saúde mundial. Quem sou eu para ficar agarrada a uma vida que não me quer?
Recordo a textura da pele. Recordo o calor dos corpos. Recordo a suavidade do encontro, o cheiro da entrega, o gosto da vontade.
Saudades. Saudades do tempo em que estes pensares ocupavam as 24 horas do meu dia. Saudades do sorriso, que se espelhava quando recordava, do súbito desejo que sentia, da pele arrepiada, do aumento da temperatura corporal, do sentir da vida. Do sentir uma imensa vontade de vida. De te ter, de te rever, de te falar, de te amar…
A saudade é uma doença portuguesa. Só nós sentimos a nossa saudade. Ainda não é uma epidemia, não é considerada uma ameaça mundial. Ainda não há casos de disseminação. Ainda não há registos declarados de contágio, de qualquer tipo, e ainda não se sabe a via de transmissão. Será oral, fecal ou sexual?
No dia em que descobrirem a ameaça que constitui a saudade falada em português, eu sou a primeira a ser abatida, tenho uma infecção em alto grau, já estive a soro e tudo. Mas o soro acaba-se. Tem vida própria, apesar de não parecer, fez as suas opções e foi à sua vida. Eu não fiquei curada. Foi apenas um, muito curto, tratamento experimental e o cientista responsável terminou com tudo à primeira complicação. O estudo foi terminado subitamente. Ficou provado que aquele que parecia ser o soro da vida era muito instável e tinha uma relação risco/benefício desvantajosa. A experiência terminou e eu continuo moribunda…
A perspectiva do abate nem me parece tão má. Já consigo perceber o que sentem as galinhas infectadas que abnegam ao resto da sua vida em prol da saúde mundial. Quem sou eu para ficar agarrada a uma vida que não me quer?
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