Wednesday, May 31, 2006

Inquieta

Inquieta…é isso, devo ser inquieta. Há quem diga que gosto de discutir, que não paro um segundo, que se não tenho, arranjo o que fazer e com o que me chatear, que sou volátil, que mudo de humor com as marés, que tenho um feitio peculiar e uma personalidade muito própria – ou seja, mau feitio, mas eu acho que sou inquieta.



Queria experimentar tudo, queria que seguir um caminho não implicasse deixar de seguir outro, queria ver tudo, não espreitar de longe como quem vê passar de fora, queria ver, viver, experienciar tudo sem ter que deixar nada para trás.




Queria jogar sem perder. Queria não ter medo da rejeição ou das más escolhas. Queria não me sentir pouco com as minhas opções. Queria viver cada dia como se não houvesse amanhã. Queria não deixar para amanhã o que posso fazer hoje. Queria não ser rancorosa e saber perdoar. Queria muito…e o pior é que tenho, ou pareço ter, mas não o sinto. Quero sempre mais. Quero sempre melhor. Quero sempre diferente…




Inquieta, inconformada…entro sempre no mesmo jogo…construir. Construir não, arranhar o que está erguido, esculpir, esculpir não, martelar o material, já não bruto, que me cai no colo. E não aprendo, penso que não aprendo, mas não aprendo e continuo a martelar na vida.

Saturday, May 06, 2006

Às vezes tenho saudades…


É verdade, às vezes tenho saudades que vivem nos dias por onde passo. São frescas, ainda delas escorre sangue vivo, ainda brota da semente, soterrada pelo tempo e pela vida, a incerteza do tempo de sempre.

Eram firmes, caminhavam direitas, em linha recta, não cambaleavam. Desviavam-se…não, desviam os obstáculos com um pontapé firme e eram certeiras nas vontades, as certezas. As certezas eram sábias e velhas, tinham tronco largo, do diâmetro do nosso abraço, casca grossa e rasgada, mal tratada pelo amargo das separações consentidas mas inundada de história, inundada de história com cheiro a mar. Caducas, o tempo abalava-as, deixava-as desnudas, pareciam sem vida, pálidas, sem pulso, prontas para serem enterradas, mas não, estavam só adormecidas pelo frio da distância e só em lume brando ferviam, queimando quem tocava e fugia…só queria ver se era verdade.

Implacável! Implacável a fervura do que vivíamos. Implacável o brilho do mosaico vermelho escuro que pisávamos. Encadeada não vi as raízes, não vi as raízes vivas amor, e tropecei. Hoje pouco me importa se foi porque o chão estava muito encerado, ou porque a raiz onde tropecei estava seca, oca e quebrou, não me susteve, não me acreditou e deixou-me cair ou se porque não existe fada dos dentes, tanto se me dá. Hoje sei que não estiveste, não estás e não vais estar à minha espera. Hoje sei que as certezas que me pareciam cheias eram ocas, sem conteúdo no seu interior. Hoje sei que o tempo te deixou a dúvida mas te levou as crenças, as convicções e a vontade de acreditar. Hoje sei que vais ser para sempre o meu amor 13, aquele que nasceu e morreu aos 13 anos, aquele que não sonhei morto porque nasceu em tempos impares e os impares deixam-me sempre desarmada, com os impares desafio a morte e perco sempre, com os impares desafio o amor e perco também, o jogo foi viciado, tu já havias comprado o resultado final.

Lesionei-me. Lesionei-me e a vida anda coxa, já não é certeira nos arremessos, pede com licença aos obstáculos e é com gentileza que roda o botão que apaga o lume. Mas desenvolveu-se na técnica de enroscar, bem mais rude, bem menos limpa, exige óleo e muito trabalho. Não faz mal, não faz mal mesmo, gosto do que possa parecer mais áspero aos olhos de quem só vê, gosto da lubrificação, ajuda em tudo, ajuda na articulação das horas, ajuda a abrir a torneira da banheira de hidromassagem, ajuda a apertar bem os parafusos cansados da cama, e gosto de trabalhar, muito, realiza-me.

Viciada no enroscar... ainda está desordenado, recém-nascido, acorda durante a noite e dá más noites, apaixonado e sempre tão presente, deixa-me acordares cansados. Cansada mas feliz, hoje trago comigo umas gramas de felicidade que não estão à venda e que não vou semear junto de uma árvore velha e acabada. A vida anda coxa mas eu sirvo-lhe muletas, as duas com anos de experiência nos corredores do Alcoitão. A vida anda coxa mas eu acredito que vou voltar a andar firme e com mais certezas.

Tu dir-me-às apenas: “não há raízes vivas no chão que pisas, amor...”

Thursday, May 04, 2006

Ouro sobre azul


E assim é
Tal como disseste que ia ser
A vida passa leve por mim…a maior parte das vezes

E assim é
Nem amor, nem glória
Nem herói no meu céu

E assim é
Tal como disseste que devia ser
Ambos esquecemos a dor…a maior parte do tempo

Não consigo tirar os meus olhos de ti
Não consigo tirar a minha mente de ti

Doce amargo


Não quero. Abdico por completo da segurança, se esta for castrante do diferente. Diferente em permanência, na exaustão de encontrar sempre o que não procuramos. Procurar ser feliz, ser não, estar, ninguém é feliz, a felicidade não é um estado de permanência, não há lei de uso capitão, podemos é estar felizes. Feliz hoje, mas não amanhã, porque o amanhã será bem amargo. Amargura para conseguir ver. É sempre assim, a vida amarga e vemos o sabor de forma, completamente, diferente. Diferente do que fui e do que virei a ser sempre. Sempre acordada no desaterro do interminável. Interminável luta pela diferença, pela não ausência, pelas não palavras no escorrer pingado dos dias. Nada do que o destino e não a forte vontade decide pode ser contado de forma inteligente.