Tuesday, January 31, 2006

Trying...

Tentar não custa mas cansa e eu estou exausta.

Monday, January 30, 2006

Vem...


...vem e ensina-me a sorrir.

Quero reaprender a sorrir...



Já vos aconteceu ficar com um sorriso pendurado? Geralmente o sorriso acaba assim como começa, de forma espontânea. Não se dá por isso, ora estamos a sorrir ora já não estamos. Só hoje me apercebi que desde há algum tempo que fico com os sorrisos pendurados. Eles até começam no tempo certo, sem que seja preciso pensar muito no assunto, mas não se desligam automaticamente. E depois, como se deixa de sorrir? Abruptamente? Ora temos a tacha arreganhada, ora já não temos? Ou de forma progressiva, como se tivéssemos a descer os lábios numa grua? Voltamos a nivelar os lábios com os dentes a que velocidade? Descemos tipo degrau? Fica estranho. Tentei faze-lo hoje e a suspensão das extremidades labiais em níveis, ainda que decrescentes, transpiram tensão. Não deve ser assim. Copiamos o da frente e paramos de sorrir quando ele parar? Também não me parece que seja assim.

Dou por mim com cara de parva a perpetuar um sorriso já completamente fora de contexto porque estou a pensar na altura certa para o terminar.

Esqueci-me de como se sorri...

Sunday, January 29, 2006

Abraço de Fénix


E o destino teima em provocar-me! Não consigo esquecer. Não posso saber.

Lembram-se da história de Fénix? O meu amor é assim, renasce das cinzas.

E sempre que se chama amor, chama-se Fénix e é imortal.

Em marcha...



Não arranco dos dias de ontem...
... porque os dias de hoje trazem tanta saudade.

Não encontro os dias de hoje...
... porque não consigo imaginar um amanhã diferente.

Não avanço para os dias de amanhã...
... porque o verdadeiro amor não me permite o futuro.

Muito Obrigado Yamadharma!


Há pensamentos que se embrulham em nós, consomem-nos na sua quase fria evidencia

“Todas as VERDADEIRAS historias de amor acabam mal!”

Há momentos em que somos iluminados pela resposta

Nenhuma VERDADEIRA historia de amor tem fim!


YAMADHARMA

Promessa em post


Somos iguais. Lutadores, convictos, teimosos, trabalhadores...inseguros, mimados, ingénuos, sonhadores...somos a mesma infância, em vidas diferentes.



Recordo chegar, recordo chegar com muitas resoluções. Férias de verão, um mês de férias ali e tanta resolução tomada, tanta tarefa assumida. Assumo muitas vezes assim, de mim para mim e muito. Hoje sou uma fraca e assumo aquilo que não cumpro, mas nos bons velhos tempos, bons por serem puros e ingénuos, velhos porque não tinham pernas para andar de tão acabados, de tão longe da realidade, eu cumpria aquilo a que me propunha e para aquele verão tinha muitos planos. Tinha 12 anos e era uma texuga, vivia debaixo de uma pedra, era bicho do mato, bem pior do que sou hoje, e teimosa até dizer chega. Cheguei para mudar, porque ali tinha espaço. Cheguei para partir diferente. A resolução estava tomada e nada me demoveria. Já com a chucha havia sido assim. Todos os dias ouvia histórias da chucha e dos dentes e as histórias eram várias, a de que me cairiam os dentes de fraqueza e por isso passava a vida a mastigar a chucha para exercitar as gengivas, a de que pela chucha entrariam bichos para dentro da boca e por isso dormia de dentes cravadas na chucha, a de que ficaria com a boca de charroco do meu primo Paulo e por isso deixei de sorrir para não esticar as peles e a pior, a mais temida, a de que os meninos crescidos não usam chucha e eu adorava ver-me crescida pelo que para mim esta era o verdadeiro terror. Mas também para esta eu consegui contra-argumento e aos três anos tomei a decisão de deixar de chuchar aos cinco, o que me permitiu mais dois anos de chucha. Resolvida mas não burra. Hoje a resolução em atitude está-me em completo desuso, não vale a pena resolver porque depois não cumpro (ainda nem sei muito bem o que pensar do assunto), mas com três anos a coisa era diferente e, como gente grande, comuniquei a quem de direito, pais e afins, que quando fizesse cinco anos deixaria de usar chucha, porque aí sim era importante ser e parecer crescida, afinal eram cinco anos. No dia em que fiz cinco anos, dirigi-me assim que acordei, ainda de pijama e sozinha, à varanda escura e vazia do 2º andar do prédio velho onde morava e por entre as grades de ferro verde e ferrugento, estiquei o braço, disse adeus chucha e lancei-a aos cães que guardavam a oficina do rés-do-chão e que me pareciam bem mais pequenos e necessitados do que eu. Voltei as costas, entrei, percorri o corredor que dava ao quarto dos meus pais, acordei a minha mãe e comuniquei-lhe que tinha deitado a chucha ao cão. Nunca mais se viu bendita chucha. Resolvia assim, era fiel. Hoje não sei...

No era uma vez que vivia naquela altura, as decisões eram válidas e para serem levadas muito a sério: perder nos três meses de verão os quinze quilos que demorariam dois a três anos a desaparecer, com muito sacrifício; fazer muito exercício para não ficar flácida; sair de baixo da pedra da calçada onde morava; descobrir o mundo; deixar que me descobrissem; mudar. Não sei esperar, não sei ser normal, chamava-lhe garra, convicção e julgava-as qualidades, mas hoje entristecem-me pela instabilidade que me trazem. Tu apareces aqui, como mais uma tarefa assumida, a de tomar conta do meu priminho mais novo, do casula da família. Tarefa que assumi com a garra que vivia na altura. E lá ias tu, correr comigo para a trincheira porque a promoção do exercício físico tinha que começar desde a infância e eras pequenino, pelo que tinhas que dormir a sesta e tinhas que aprender tudo o que te quisesse ensinar e tinhas que me obedecer porque eras minha responsabilidade e eu tinha medo que te acontecesse alguma coisa e não podias comer gelados todos os dias porque a educação alimentar evita excessos que levam à obesidade e tudo. E tudo o que fizesse de mim uma boa educadora, uma preceptora exemplar, porque me tinham pedido para tomar conta de ti.

Tal como me tinha comprometido lá se foram os quinze quilos a mais, saí debaixo da pedra onde vivia (para aos dezoito anos me enfiar debaixo dos livros, mas isso não interessa nada), conheci amigos de uma vida e mudei. Mas tomar conta do miúdo foi o mais enriquecedor e é a recordação mais carinhosa que tenho desse verão. Lembro-me das histórias que contava para te adormecer, lembro-me de me deitar contigo no sofá xadrez da avó para que adormecesses, mas nunca de te deixar não dormir. Lembro-me de correr atrás de ti na trincheira e de pensar que eras um rabino, mas nunca de lá estares obrigado. Lembro-me de saborearmos os poucos gelados que me permiti comer naquele verão e de ficares todo lambuzado. Lembro-me de passearmos e de te explicar como se atravessava uma rua. Lembro-me de olharmos para a esquerda e para a direita e de atravessarmos a rua de mãos dadas. Lembro-me de como eras pequenino e do orgulho que sentia quando alguém na rua achava que eras meu irmão pelo carinho com que te tratava. Lembro-me dos teus porquês, sobre tudo e mais alguma coisa, de estarmos sentados no banco do jardim de pernas cruzadas e do gozo que me dava explicar-te o porquê dos porquês. Lembro-me de te repreender por mexeres nas minhas folhinhas de colecção, mas também de te as oferecer para que me escrevesses palavras soltas e lindas que guardei durante anos. Lembro-me das manhãs tristes em que nunca mais chegavas. Lembro-me das saudades que sentia quando não estavas. Lembro-me das gargalhadas...mas também me lembro das lágrimas de quando te obrigava a dormir ou de quando te repreendia.

Não é fácil saber a medida certa de cada gesto, de cada comportamento. Saber se estamos a ser demasiado severos ou demasiado brandos. Só te queria tudo, só queria que crescesses com bases fortes, resistentes. Só queria que o tempo te trouxesse tudo e por isso tinha que agir rápido. Só queria que percebesses que a vida te pode dar tudo se estiveres de olhos bem abertos e disponível para receber. Só queria que ganhasses espírito de luta e que percebesses o quão importante isso seria para o teu futuro. Mas tu eras tão pequeno...e se te roubei parte da infância e se te fiz crescer cedo demais, desculpa. Eu própria era uma criança, não só na idade, mas também nas crenças, na experiência, nas expectativas e ainda hoje e sempre nas emoções. Agi na medida da criança que era e da vontade que tinha de te cuidar.

E na despedida tudo ganhou um sentido diferente. E achei que não te tinha aproveitado. E que tinha sido demasiado severa. E que tu eras demasiado pequeno para aprender tudo o que te queria ensinar. E que não tinhas que ter levado com as minhas resoluções. E que nunca mais gostarias de ti. Mas o sentido inverteu-se e a despedida ganhou asas quando te vi chorar, chorar de tristeza pela minha partida, junto às escadas de pedra daquela casa, muito, muito antiga, acenando com uma mão e agarrado à saia negra da avó Augustinha com outra e as lágrimas caiam pelo rosto do meu pequenino como na gente grande, lágrimas imensas que se sentiam ao longe. Fiquei a olhar-te pelo vidro retrovisor do Renault amarelo, num dia de verão que me pareceu cinzento, e a pensar que ia morrer de saudades. Foste a primeira criança a quem passei um bocadinho de mim e em igual quantidade te dei amor e severidade e não foram, com certeza, as medidas certas, mas tu estás um homem decidido, lutador, lindo e eu orgulho-me muito de ti e do pouco que possa ter contribuído para isso.

Somos diferentes, crescemos distantes, vemo-nos pouco, mas teremos sempre aquele pedaço em comum, seremos sempre iguais no tempo do juntos e isso ninguém nos tira.

Thursday, January 26, 2006

Curiosidade


Tenho curiosidade em conhecer o amanhã, porque do hoje estou exausta...

Ando triste. Ando triste há muito e o pior é que não passa...



Todos os dias acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei-de fazer das minhas sensações.
Não sei o que hei-de ser comigo sozinho.
Quero que ela me diga qualquer cousa para eu acordar de novo.


Alberto Caeiro

Wednesday, January 25, 2006

Expressão



Dói-me o acordar diário. A luz fere-me os olhos. Se me fosse permitido ficariam fechados dia e noite. E de olhos fechados não paro. A fase REM do meu sono é constante. REM mas não muito, porque não saiu do mesmo lugar. Continuo aqui, não sei onde, completamente perdida.

Perfumo-me todos os dias. Cubro-me de um novo cheiro. Um cheiro que não é de ninguém, ainda está por descobrir. Coberta de perfume passo camuflada. Embebida num agradável odor conservo-me deste lado. Do lado dos que parecem vivos, do lado dos que se parecem importar. Engano quem me olha, mas não quem me conhece. Quem me conhece e se dá ao trabalho de reparar, repara.

É gritante o desmazelo. Não me penteio. Cabelo sempre preso, atado a ele mesmo. Consta que é bonito. Não é de ninguém, mas também não é meu. Perdi-o! Perdi-o para quem não o quis. Puni-o! Puni-o pela leviandade e anda preso na solidão dos dias. Se não vê quem quer ver, não vê, nem é visto por mais ninguém. Enrolo-o, convictamente, sobre ele mesmo, dá volta sobre volta, enleado em minhas mãos, cobrindo os dedos que o prendem e gritando revolta, compaixão. Mas imune ao apelo, continuo. Continuo o massacre, espeto-o com um pau, também ele torneado, da direita para a esquerda e de cima para baixo, de forma a que fique firme. Firme e cego, para que não mais se perca de amores por alguém. Espeto-o e guardo-o para ti. Tem dono. Está reservado. É teu. A dádiva ficou acordada no dia em que me despedi. Mais uma despedida. Despedi-me e chorei, chorei com calma, sem desespero, chorei repleta de dor…

Não me maquilho. Não me apetece, as olheiras combinam comigo. O olhar é escuro, sem brilho. Os olhos são verde acinzentado, não são verde azeitona, não são verde tropa, não são verde água, gosto de acreditar que são verde-mar, verde-mar de Inverno. Ganharam uma nova circunferência e terminam numa aura negra. As encostas prendem-nos e não nos deixam respirar. Estamos em anoxia e quando acordarmos do pesadelo não vamos ser os mesmos. Estamos vazios. Vê-se o fundo de tão cheio de nada. Nem o bendito do rímel me toca, porque esfrego imenso os olhos. Esfrego os olhos incrédula com a vida que levo, melhor, com os restos de mim que a vida teima em arrastar. Espreito, espreito fora o que quero ter dentro e não sinto. Não sinto a distância a que estou, porque não estou, nem sei quando volto.

Sinto-me proibida. Proibida a estranhos. E hoje todos me são estranhos...

Onde estou?


Ando escondida do mundo. Não procuro ninguém. Fujo de quem me encontra. Fica para trás o que conquisto. Desperdiço o que me sobra. Não sabe de mim quem me gosta. Quem não me gosta nem se dá conta, porque passo despercebida. Engano aqueles com quem convivo. Minto àqueles que se importam. Falo porque não posso ficar muda. Olho porque de olhos bem fechados reparam. Sorrio quando quero chorar. Interesso-me porque não quero perder tudo.

Monday, January 23, 2006

Prisioneira


Por esta janela ribeirinha espreitei o meu amor longe.

Continuo prisioneira do que não vejo, sentindo o que não devia e desejando o que não consigo ter. Prisioneira do que me é proíbido, não tenho o que viver.

Não sei o que querer, o que desejar. Não sei o que é justo ou me é permitido. Não sei ou gostava de não saber...porque, se não soubesse, tudo me era permitido.

Thursday, January 19, 2006

“ Instável Não, Assimétrica”


Afinal sou assimétrica. O meu hemicorpo esquerdo é, definitivamente, mais pequeno, mais singelo e mais feminino que o hemicorpo direito. Já o conheço, tudo mede menos, o pé calça menos meio número, a copa é dois tamanhos menor e a orelha é ainda mais pequena que a direita. Mas ontem descobri que também a minha sobrancelha esquerda é diferente da direita. É mais definida. Todos os pêlos se encontram na mesma esquina, à mesma hora, sem qualquer problema. Os elementos, são bons elementos. Fazem reuniões de trabalho todas as noites e acordam a posição ideal para a sobrancelha perfeita. Já à direita não há consenso. Completamente assimétrica, a coitada é o resultado de um proletariado em plena revolução sindical. O pessoal não se entende, uns deitam-se para baixo, outros deitam-se para cima, outros reivindicam que Meca mudou de orientação, ficam baralhados e deitam-se num qualquer sentido e há ainda outros que sofrem de insónias e dormem de pé. O que fica sempre muito bem, ter 2 ou 3 sentinelas hirtos, num pelotão já por ele caótico. E a minha esteticista dizia: “Não fica triste não, mas você não é simétrica”. Fui enganada! Achei que era instável e afinal foi a minha esteticista que fez o diagnóstico, sou só assimétrica. Será melhor ou pior?

Thursday, January 12, 2006

Dizia ontem a um amigo...


...perder uma avó é perder o nosso pedaço de história mais valioso.
(não gosto de dar os pesâmes)

Wednesday, January 11, 2006

O nosso tempo


Arde-me a memória da noite em que ouvi o teu amor...




...consumida, mais do que nunca, estou em pedaços de mim…




...esperando entre dois tempos…




...aquele que será o nosso.

Adormeço em tuas águas


Quero confiar na fragilidade do que descubro a cada viajem. Quero fazer entrar o aroma do teu respirar e ser o cheiro do teu faro. Quero entranhar na bruma da tua presença e ficar por aí. Quero brilhar nas noites frias do inverso e iluminar-te. Quero adormecer nas tuas águas e sentir-me descansada. Quero raiar e aquecer o correr das tuas manhãs. Quero ver-nos reflectidos em sombra, num final de tarde de um dia difícil, recebendo no meu leito a tua face, acariciando os tons da tua alma, nos tormentos do que és. Quero pertencer às tuas águas e banhar-me na alegria do teu estar. Quero navegar a teu lado, sem amarras. Quero que fiques, que não estejas eternamente de passagem. Quero que te encontres, que me encontres e que mergulhes. Quero que sintas o despertar do meu desejo nas curvas da tua mão. Quero que serenes no amor do meu sentido. Quero-te na vida por minhas mãos despida e acariciada. Quero-te na luz, ainda que no crepúsculo dos meus dias, voando raso em redor. Quero-te no silêncio das águas, entornado sobre o meu corpo. Quero-te. E se te perderes eu espero por ti…no local do costume.

Agora, continuo ancorada no cais da saudade, esperando o vento para uma nova vida e chorando o paraíso perdido…

Procura-se pedaço de vida...


Perdeu-se, na tarde do dia 2 de Abril de 2005, pedaço de vida no Hotel dos Templários em Tomar. Vestia gabardina negra, tinha um ar enigmático e solitário, olho atento e pestanudo, mão esguia, de gesticular fino e expressivo, e cheirava deliciosamente. Sofre de grave mal de alma que o impede de encontrar o caminho de volta para casa e precipita-se sobre o abismo do que não encontra. Caiu da instabilidade de um ser e prova, na saudade do amor, o sabor metálico do estado estuporado em que se encontra. Perdido e angustiado, longe de quem o ama.

Oferece-se RECOMPENSA a quem o encontrar.
Desde já o nosso muito obrigado.

Tuesday, January 10, 2006

O meu olhar...


Hoje o meu olhar está diferente. Hoje combina mais comigo. Carrega o peso das rugas que me rasgam a testa e ganha agora a distância a que estou do que não tenho. Vê-se longe. O meu olhar vê-se muito ao longe. Um mar escuro e revolto, num dia triste e sombrio. Falha a comunicação...e não se vê mais nada, no meu olhar…

Melancolia


Quero afogar-me em melancolia.
Se deixar de respirar, deixo de ver, o sentir passa a ser dúbio e o querer já vai longe...
É isso, quero morrer em melancolia, adormecida pelo manto da noite, coberta pelos tons do mar e do Outono, que parecem combinar com o meu tom de pele, e com aroma a Paris, cheiro de quem soube a pouco.
Escolho para minha mortalha, a melancolia, enrolada em lençóis de mar com tons de Outono.

Sunday, January 08, 2006

A verdade está lá fora...



...mas eu não quero ver. Sei que estás numa das janelas onde espreito, e acreditem, tenho espreitado muitas vezes, em muitas janelas, mas não quero saber. Que a verdade vizinha se mantenha verdade, mas longe da minha janela. E quando chegares verdade, vem sem dúvidas, respeitando todos os que encontrares. Não venhas às metades. Não sejas omissão. E se vieres assim, e se vieres por bem, talvez te receba de braços abertos, porque apesar de andares desaparecida há meses e de me teres deixado sozinha, a ti perdoo tudo, porque te amo e porque o erro faz parte da vida. Caso contrario verdade, escusas de andar de janela em janela porque eu não te quero. Da verdade partida ou disfarçada quero distância. Se assim for verdade, se fores dissimulada e existires só às fracções, morre longe verdade, que eu própria te enterro.

Saturday, January 07, 2006

Âncora


Fiquei ancorada no fundo de um poço que não parece ter fim. Abro os olhos e continuo encalhada no meio de um verde morto e seco, presa nos limos de uma vida que não desejo e que só é metade da concha que pedi. Estou desprotegida das intempéries das marés de Inverno e dói-me o corpo da posição viciante em que me deito e não acordo, não quero procurar o fim do labirinto na lama que me afoga, fico na asfixia do ser inerte, com a alma desligada e a boca do amor preenchida por nada, por nada do que descobri, na ausência do amor que encontrei. Não vou procurar o que já encontrei…



…mas parece que no caos das pedras nasce a vida e, por enquanto, não tenho forças para me levantar ou partilhar o que parece ser meu e que também eu perdi...

Esperando ainda a quebra do encanto...

Friday, January 06, 2006

Presa a ti


Ainda presa a ti, ao que não fomos, ao que ficou por viver, uma e outra e outra vez…
Ancorada na margem de um mar estranho, distante, mas vizinho há tanto tempo…
Amada na beleza do olhar que teima em não me ver e em não se deixar ver…
Anunciada sombra do potencial que era naquilo que não consegui ser…
Anulada pela serenidade que não trouxe e pela fiel cópia de feitios…
Arrancada à vida a vontade de me teres e a utopia dos viveres…
Amanhã tudo será igual e eu continuarei ancorada à vontade de te ter…

TOMAR...


…devagarinho, com tempo, começando por tudo o resto, passando por onde o mundo não vê, dizendo o que só tu ouves, pedindo que fales e que me contes…

…que me contes onde estas? Que me contes o que queres? Que me contes onde ir? Que me contes o que provar? Que me contes onde tocar?

… tocar onde não podem, o que desejo. Tocar com a imensidão do que sinto o desejo de te ter. Tocar o tom dos meus lábios na cor de vida da tua pele e vê-la crescer…

…crescer no acreditar do que sou mas não se via. Crescer em mim e entrares até onde não parece possível. Crescer num lugar criado pelo amor que sinto, inexistente antes de ser teu…

…como foi tua a palavra amor no tomar do cálice que bebia. Tua a delicia que provei e que dei a provar. Tua, meu, nosso, o lugar na minha boca. Tua a paixão da entrega do doce sabor…

…doce o sabor que sinto da lembrança. Doce tomar de mãos dadas, síncronas no desejo. Doce desejo de amar até onde não se acredita. Doce acreditar nas palavras de tomar…

…tomar tudo de uma só vez. Tomar o que parece não caber na lógica do ser. Tomar o que tinhas para me oferecer e não desaparecer…

…não desaparecer o nada porque o tudo era tão importante. Não morrer a confiança construída e creditada no amor do ser eterno. Não fugires na instabilidade do meu estar…

…estar e não ser. Estar instável num ser teu, sempre. Estar perto do longe que dói a ausência do toque. Estar na espera do que ontem foi meu…

Tomei de assalto o amor que me deste e…não era meu. Era de um tempo antigo, mas a tua crença arrastou-o, arrastou-o até me tomar. E, se não sendo, viveu em nós, agora só mora em mim, pelo que me resta fazer desaparecer na angústia do olhar o amor que te tenho e que não é meu…

Thursday, January 05, 2006

De costas viradas para a vida?


De costas viradas para o mundo...
...nunca para a vida
...e sempre de peito aberto para ti
...mudei de ideias?

Até há pouco tempo não era assim...
...era receio, medo, espera
...era arrastar, deixar a vida seguir o seu rumo
...era não lutar, só sobreviver, deixar o tempo correr

Hoje? Amanhã? Depois?
...ofereço-me a entrega aos desejos
...decido com a naturalidade do que sinto
...não permito ao futuro pensar no que o passado não viveu

Desistir de amar...deixar de sofrer?
Não é opção.
Prefiro apanhar da vida do que deixar-me apanhar pelo tempo
...prefiro viver o sonho a pensar no que é capricho
...prefiro acreditar a morrer sem experimentar

As decisões do tempo não são tuas, são só do tempo
...as tuas são as que agarras por intuição
...as tuas são as que a genuinidade do ser não te deixa perder
...as tuas não fogem, acertam contas com o tempo

O tempo fugir com o sonho de amar?
...não posso deixar
...ideia indissociável do meu ser, a de amar e ser amada
...morre comigo, a meu lado, o amor que te tenho

Ataca-me a realidade de um amor eterno
...e que venha, que venha a vida e o amor
...o que é o amor de uma vida...
...se a eternidade não for o seu lema?

His Hand-Her Body-Their Love


Ofereço esta foto a um amor.
Desejo-te muita, muita merda.
Que agarres esta nova etapa de vida com muita força.
Que não deixes de acreditar.
Que a proves com o respeito que ela impõe.
Que a testes até à exaustão.
A merda da vida passa muito depressa…
…e as oportunidades tornam-se únicas...

Wednesday, January 04, 2006

Outono na praia


Que a verdade não tenha estações

Que nasça na Primavera e floresça no Verão

Que não envelheça o Outono e não mate o Inverno

SEM verdade não há tempo...

Tuesday, January 03, 2006

Uma vida


O torpor dos dias enaltece o significado de uma vida.





(Preciso acreditar, para que os dias sejam serenos e não pareçam intermináveis)

Volto assim...


... de mansinho. Triste o suficiente para escrever um oceano de frases e lamurias, mas demasiado triste para ser lida.

Amargura...até aos dias de hoje pouca noção tinha sobre o que era estar amargurada. Pouca noção tinha do quanto se podia estar amargurado. Pouca noção tinha do que poderia ser motivo para tanta amargura.

O desistir. O desistir é com certeza um óptimo motivo. A descrença. Oh!! Essa enche o saco dos pesares. A naturalidade dos dizeres. A volatilidade do sentir. A instabilidade do ser. O arrastar dos tempos. O esgotar das relações. O aterrar no vazio. O abandonar dos sonhos. O terror da solidão. A tentativa frustrada. A aposta perdida. E lá estou eu a vomitar lamurias em jacto, prestes a arrastar pela rua da amargura o nome de quem não vejo. De um amargo de boca pestanudo com olhar meigo, olhar de quem gosta muito de mim. Olhar penetrante e invasor que me rouba a intimidade e morde os lábios pensando no desejo. Olhar de sobrancelhas carregadas e vivas que rugem na minha presença. E logo via amor, mas amarguei amargamente o amargar do amor amargo. E é amargo amargar sobre um amor. E tenho que me deixar disso.

Afinal não volto de mansinho. Não sou mansinha ponto, nem a amargura me amansa. A amargura não me amansa, definitivamente não me amansa, o amor talvez tivesse conseguido. Num destes dias vazios que atravesso, a mulher que me deu à luz (já era torta in útero, nasci com várias circulares ao pescoço, era já a minha tendência depressiva em acção e logo ali tentei por termo à vida, louca, mas de qualidade e não há tendência depressiva de jeito que não venha servida com uma boa duma ideação suicida e nasci por cesariana, cianosada, não com uma, não com duas, mas com três circulares cervicais) dizia-me: “ Filha, dói-me a cicatriz da cesariana. Vê lá, passados tantos anos, agora é que me dói. Não deves andar bem...” fez-se silêncio...ouvi aquela absurda verdade e pensei, também quero merecer sentir uma percepção do género, completamente disparatada, desgarrada da realidade que conhecemos, mas deliciosa e cheia de legitimidade...a mão materna inundada de festas aproximou-se do dourado do meu cabelo, mas eu não só fugi como a afastei. Fui ruim, mas não a consegui receber. Porque as festas que me permito receber não são declaradas, porque as festas assustam-me, porque fujo, porque sou bicho do mato. Mas recebi um pé quente entrelaçado no meu...talvez ainda haja salvação para esta minha resistência aos afectos declarados.

Ponderei matar este canto ou pura e simplesmente deixar de criar postas ou melhor ainda, apagar posts, um a um, sempre que me apetecesse escrever em amargura e esperar para ver, para ver se este blog renascia e se não renascesse morria aos poucos, seria uma morte lenta, sentida, vivida, para que não tivesse que morrer de novo, para que me lembrasse desta morte e não repetisse a proeza, porque não quero matar outro amor, porque, parafraseando-me, se amores há muitos eu não os quero, porque quero um amor único e amarga-me a aparente inocência daquilo em que acredito e a resistência do amor eterno que teima em viver e apesar da amargura alegra-me acreditar, agrada-me a coerência do que sinto na instabilidade do que sou.

Parece que afinal não voltei de mansinho...