Quero!
Quero acreditar! Como quero, acreditar que os dias não me vão trazer mais angústia, mais não verdades. Que o arrastar dos tempos me vai tornar mais madura, mais imune. Que me vai destruir os sonhos e fazer-me passar à realidade, porque eu sou igual a todos os outros e mereço o que está na prateleira e é de quem se servir primeiro.
Quero despertar! Quero despertar desta melancolia deitada nos dias que atravesso. Não! Que atravesso não, porque eu não me mexo, mas eles, os dias, tem pressa e lá vão passando. E passam devagar. Passam devagar os dias, porque as noites são tão curtas... tão curtas que não as consigo encontrar e nelas me perco.
Quero parar! Quero parar o tempo e ter tempo para ficar quieta, se conseguir. Porque estou hiperactiva, não descanso mas também pouco produzo, mais um pouco e não me falta nenhum critério diagnóstico para um sindroma de hiperactividade, não paro quieta, não descanso as noites, não concentro a atenção, não produzo e cá estou eu a recém chegada hiperactiva.
Quero simples! Quero conseguir pensar direito, perder a mania de que sou Deus que escreve certo por linhas tortas e traçar a linha recta na qual escreverei a minha vida. Sair deste estado de completo caos e passar à ordem. Ser policia sinaleiro destas ruas fechadas ao trânsito, esburacadas e mal tratadas pelo tempo e pela vida.
Quero fazer! Quero fazer aquilo a que me proponho e sentir-me bem com o que faço. Sentir que fiz o melhor que podia e não o que podia com o tempo que me sobrava. Que sobrava do que pura e simplesmente não gastava. Esteve lá sempre mas eu só o olho quando está a terminar, quando tem que ser senão passa a validade.
Quero tudo! Quero tudo e não quero nada. No fundo não sei o que quero, nem muito bem o que quero querer. Sabia o que não queria e já não achava mau, agora nem isso.